quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Personagens: rede de personagens

Quando se está a escrever um livro, é natural que se necessite de criar diversas personagens e de as fazer interagir. Mas a quantidade de personagens criadas é muito variada, competindo ao autor e ao que ele pretende fazer da história. Normalmente, obras com a temática fantasia/ficção/utopias têm à vontade 50 personagens, enquanto que histórias românticas tendem a ter cerca de 10 personagens. Trago algumas questões relativas a à quantidade e relações entre elas.

» Menos é mais? Não há uma regra para responder a essa pergunta. Em histórias como a de George Martin, Crónicas de Gelo e Fogo, deve haver mais de uma centena de personagens e todas elas são desenvolvidas (embora nem todas com a mesma profundidade, a maioria foi ainda assim bem estudada), mas nem toda a gente conseguiria dar atenção a um número de personagens tão grande. Então, o primeiro fator limitante é a capacidade de o autor lidar com uma gama muito grande de pessoas. E, também, o número de páginas que se pretende escrever. Porém, alguns autores conseguem escrever obras riquíssimas com um máximo de 10 personagens, e como assim se pode dar ainda mais atenção a cada uma delas, é mais fácil ganhar a atenção e identificação dos leitores.

» É melhor desenvolver todas as personagens, ou focar no protagonista? Também depende. Não é regra geral, mas quase todos os leitores detestam ver uma personagem mal desenvolvida ou mal aproveitada - passa uma ideia de escritor iniciante que criou a personagem A por motivo nenhum. Mas também não é preciso desenvolver demasiado todas as personagens, afinal, o papel de secundário e de figurante existe por algum motivo. Desde que nenhuma delas seja demasiado rasa, já está bom, e pode dedicar o resto da atenção a desenvolver o protagonista tanto quanto conseguir. Porém, um amadurecimento centrado principalmente no protagonista costuma ser associado à narrativa em primeira pessoa, em que se explica um ponto de vista mais restrito. Numa obra escrita em terceira pessoa, o ponto de vista tende a ser amplificado, assim como a exploração do universo criado para o livro. Nesse caso, é mais seguro desenvolver bem um maior número de personagens, pois além de combinar melhor com a história, tornam-se mais interessantes no caso de assumirem o papel de narradores. Porquê usá-los alguma vez como narradores se já se tem o protagonista? Imaginemos, por exemplo, que o protagonista vai de viagem, mas o autor decide dar novidades sobre o que está a acontecer na sua terra natal. Se não quiser recorrer a cartas ou mensagens de qualquer tipo, onde as novidades seriam contadas, pode fazer uma personagem que tenha ficado na terra natal assumir o papel de narrador e mostrá-las [diferença entre contar e mostrar: www]

» Estabelecer relações entre as personagens: As personagens TÊM DE interagir umas com as outras. Aliás, as histórias mais engraçadas e que permitem as melhores reviravoltas são precisamente aquelas em que todas as personagens, por muitas que sejam, se conhecem. Essas relações podem ser decididas juntamente com a planificação da trama, ou podem ir sendo acrescentadas aos poucos, mas o importante é ter uma folha onde registar todos os laços entre as várias personagens. A minha sugestão é a seguinte: criar uma árvore genealógica, não apenas com famílias, mas com todas as personagens, onde linhas coloridas unem os nomes das mesmas. Por exemplo, rosa para amantes/namorados/apaixonados, vermelho para traição, turquesa para amizade, verde para proteção (por exemplo, um escudeiro a proteger algum nobre), roxo para inimizade… As setas indicam o sentido dessa relação: se A ama B, a seta aponta de A para B, claro, em rosa. Caso o sentimento seja recíproco, então desenha-se setas em ambas as pontas. Outra dica é, numa folha aparte, detalhar as relações mais complexas, indo além dos factos e adentrando nas circunstâncias. Nessa folha são explicados os porquês de tais relações, a sua história, há quanto tempo duram e a sua profundidade.


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