quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Criação de personagens: Personalidade

Para quem pensava que o processo de criação das personagens já estava concluído, enganou-se - tenho ainda muito a dizer ;) Não basta responder a uma imensidão de questões sobre a personagem se depois a personalidade for discordante do que já estipulamos. Há uma imensidão de personalidades possíveis, e uma ideia boa na criação das personagens é recorrer aos tópicos seguintes:

» MBTI Types: A sigla significa Myers-Briggs Type Indicator, se bem percebi, em homenagem a quem os criou, e o seu objetivo é organizar as diferenças básicas de comportamento e personalidade de um indivíduo. Para os indivíduos serem classificados, tem-se em conta que o comportamento de cada um resulta de interesses, reações, valores, motivações e capacidades. O objetivo dessa classificação é aumentar a percepção que se tem das outras pessoas. O quadro final contém 16 tipos diferentes de personalidade. As pessoas são classificadas pela forma como o seu perfil responde a determinadas perguntas (apenas 4, com duas possibilidades de respostas cada), podendo as respostas variar entre: Introvertido/extrovertido, Sensitivo/intuitivo, Racional/sentimental e Julgador/compreensível. As iniciais (inglesas) de cada resposta combinam-se para formar um tipo, com 4 letras. Aqui um post onde explico direitinho em quê que cada combinação consiste: www

» Personagens a preto e branco, ou escalas de cinza? Este ponto entra com o conceito de bem e de mal. Antigamente, era usual haver uma separação marcada dos dois lados, principalmente em histórias de fantasia onde grupos de pessoas ou criaturas mágicas lutavam por apenas um lado, ou a Luz, ou as Trevas. Porém, as pessoas são mais complexas do que o lado pelo qual lutam. Essa ideia é cada vez mais disseminada e é cada vez mais raro encontrar personagens inteiramente boas ou inteiramente más. O que se encontra mais hoje em dia não são personagens a preto e branco, mas em escalas de cinza, como anti-heróis, vilões com grandes princípios éticos, génios que nem se preocupam com o conceito de lados, personagens neutras que se regem pela sua consciência ou pela protecção da própria pele, agentes duplos, heróis que sentem tédio perante o lado pelo qual lutam… Nada impede que um autor crie uma combinação harmoniosa ou coplexa entre os dois tipos de personagens na sua história, ou que prefira a concepção mais antiga e definida, mas se a ideia for obter o interesse do público, a opção “escalas de cinza” é consideravelmente mais indicada. O quanto alguém gosta de um livro tende a ser proporcional ao quanto se identifica com ele. E é natural as pessoas identificarem-se com personagens mais complexas e com motivações profundas.

» Ninguém é perfeito: Tal como é mais fácil a identificação com personagens complexas, é mais fácil a identificação com personagens imperfeitas, e não omnipotentes. Tudo bem quanto a personagens competentes – se forem completamente inúteis, chegam a tornar-se irritantes, então também não vale a pena exagerar nos defeitos. Mas a par com as motivações já referidas, todas as personagens devem ter algo que as assuste, as iluda, faça tremer, em que não sejam tão boas, que as envergonhe, em suma, aspectos negativos. E não basta criar isso apenas por criar – deve ser usado contra a própria personagem, para colocar algo em jogo, ameaça-la ou manipulá-la. É nesses momentos que a personagem será forçada a tomar alguma decisão difícil, e é através da sua linha de pensamentos que os leitores sentem mais fortemente o peso do momento. 

» Estereótipos ou a fuga deles: Tanto é comum, hoje em dia, encontrar personagens estereotipadas que seguem os arquétipos que mostrarei a seguir, como encontrar personagens que fogem deles. Como modelos de estereótipos, há uma página incrivelmente boa que enumera e descreve na perfeição 16 estereótipos masculinos e 16 femininos (geralmente mais comuns em filmes, mas enfim), que eu vou apenas citar, mas caso queiram ler mais sobre os vários tipos, acedam ao link: www.  Já este segundo link tem alguns estereótipos adicionais, www. Tenho ainda um post que fala das personalidades e estereótipos de animes: www.
  • Estereótipos masculinos: 1) O Homem de negócios; 2) O traidor; 3) O protector; 4) O Gladiador; 5) O recluso; 6) O feiticeiro; 7) O tolo; 8) O abandonado; 9) O homem das mulheres; 10) O sedutor; 11) O messias; 12) O justiceiro; 13) O artista; 14) O abusivo; 15) O rei; 16) O ditador;
  • Estereótipos femininos: 1) A Musa sedutora; 2) Femme Fatale; 3) A amazona; 4) A górgon; 5) A filha do pai; 6) A traiçoeira; 7) A cuidadora; 8) Mãe super protectora; 9) A matriarca; 10) A desprezada; 11) A mística; 12) A traidora; 13) O messias feminino; 14) A destruidora; 15) A donzela; 16) A adolescente problemática;

Na verdade, há ainda mais estereótipos além desses, por exemplo, o de Nerd. Usemo-lo para mostrar como quebrar estereótipos: Quando se fala de nerds, a maioria das pessoas imagina alguém com óculos garrafais, que não é particularmente bonito, se veste de uma forma relativamente antiquada e coberta, e se dedica imenso a estudar. Uma forma de surpreender as pessoas seria apresentar um nerd com os seus gostos de Geek, Otaku ou o que fosse, mas que fosse surpreendentemente charmoso, ou então que não se desse bem na escola. Na verdade, é possível ir até bem mais longe que isso, o que só prova que, se um estereótipo fôr desenvolvido de forma original, pode ser realmente cativante. 

Cada vez mais personagens estereotipadas começam a aborrecer os leitores, pois é relativamente fácil prever o seu comportamento e os seus gostos. Contudo, frente personagens que fogem dos estereótipos, o interesse aumenta, pois nunca sabemos se aquilo que conhecemos é maior ou menor do que aquilo que nos é desconhecido. Cada vez mais a sociedade procura por algo que fuja dos padrões, ou que concilie vários deles. Durante muito tempo, prevaleceu a ideia de que uma pessoa não pode ser mais de uma coisa em simultâneo - tal está completamente errado, e cada vez mais há uma luta para apontar esse erro, principalmente por parte de adolescentes que se manifestam em tumblr e redes sociais mais críticas. O que se vê NO MOMENTO não determina a totalidade da essência da personagem.

A imagem ao lado foi feita com o intuíto de ser uma crítica à massificação, certo. Mas é também uma imagem problemática, quase gritando que as mulheres que gostam de cuidar da sua aparência são necessariamente incultas. Que mentira, não é? Uma pessoa que gosta de maquilhagem pode também gostar de ler. Um homem pode gostar de cozinhar. Uma mulher pode gostar de jogar playstation. Não existe incompatibilidade de gostos, ou, se existe, é numa percentagem muito pequena, e a desconstrução de clichés cada vez mais se torna um objetivo alvejado. É por isso que a diversidade deve ser procurada aquando o processo de escrita - não só no sentido de atingir um maior público, como no sentido de procurar abrir os olhos à sociedade, um dever de qualquer escritor. Mas isso é assunto para outro artigo...  

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