quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Criação de personagens: Complexidade

Boas personagens são aquelas que intrigam e têm potencial para crescer, muito que explorar. Isso pode relacionar-se com o passado das personagens, mas não necessariamente. Normalmente, a personagem mais complexa é aquela que levanta mais questões, assim despertando o interesse dos leitores. Aqui vai um exemplo retirado inteiramente do blog Ficção em Tópicos, que depois completarei com um trecho meu:

Digamos que três protagonistas são brevemente apresentados a você.

» André. Um estudante de computação que foi recentemente contratado como estagiário pelo Google.
» Tiago. Um arquiteto desempregado que recebe uma ótima proposta de emprego da amante do seu pai.
» Marina. Uma agente de turismo que acabou de voltar de uma viagem de férias aos Estados Unidos.

Qual deles mais desperta sua curiosidade em conhecer detalhes sobre a sua história? A minha atenção se voltou para o Tiago, e eu acredito que a sua também. Mas por quê? O que faz você se interessar mais em conhecer a história dele do que a dos outros personagens? Todas as histórias que capturam a sua imaginação têm algo em comum: o escritor despertou seu interesse em saber mais sobre os personagens.

E todos os personagens que despertam seu interesse também têm algo em comum: no seu primeiro contato, você percebe que há algo de interessante a ser descoberto sobre eles. Algo relacionado à sua vida emocional (como eles pensam e sentem), pessoal (como eles se comportam e se relacionam), social (que papel político ou cultural eles desempenham), ou uma combinação entre as três. 
No exemplo acima, é o personagem Tiago que instantaneamente provoca uma série de perguntas. Como ele descobriu que seu pai tem uma amante? Há quanto tempo ele está desempregado? Como sua mãe vai reagir se ele aceitar a oferta?

Quanto mais complexa for a vida dos seus personagens, mais oportunidades você terá para desenvolver um enredo original para sua história de ficção. (…) Se o Tiago não estivesse desempregado (conflito social), se seu pai não tivesse uma amante (conflito pessoal), ou se ele não se sentisse culpado pela condição de dependência de sua mãe (conflito mental), não haveria história.

Isso significa que a caracterização dos personagens define o potencial criativo da história. É a combinação única de experiências, caráter e personalidade que dá complexidade a um personagem, e consequentemente a uma história.

Muitas perguntas podem tornar as personagens complexas, sendo que acima o autor apontou algumas relativamente a um caso bem específico. Trago, portanto, perguntas generalizadas que podem ser respondidas quando se estiver a planear mais sobre as personagens. Cuidado para não revelarem as respostas todas, muito menos de uma vez só! O autor DEVE saber todas as repostas para averiguar se a personagem age de forma coerente, mas os leitores não devem ser informados acerca de tudo - aliás, muitas vezes o importante é deixar algo sujeito à interpretação. Enfim, cá vão as questões:

O que quebra completamente a personagem? Qual foi a melhor coisa que lhe aconteceu na vida? Qual foi a pior coisa que lhe aconteceu na vida? Que memórias aparentemente insignificantes a personagem carrega consigo? O quê que se sente relutante em contar às pessoas? Como é que se sente quanto a relacionamentos? Quantos amigos tem? Quantos amigos quer ter? O que levaria a personagem a fazer um escândalo em público? Pelo que daria a vida? Quais são as suas maiores falhas? De quê que a personagem está disposta a tomar conta? O que atingiu até agora corresponde às expectativas que tinha? Quais são os seus medos? Alguém considera a personagem idiota? O que tornaria a personagem rude/indelicada? Pontos fracos e pontos fortes? Quais são os seus medos? De que tem vergonha? Qual é o seu maior sonho/objectivo? Quem o ama mais? Quem é que ela mais ama? Quais são as suas motivações? Que crenças tem? Até que ponto é cético? Dá-se bem com crianças? Dá-se bem com pessoas da sua idade?  

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